terça-feira, 20 de novembro de 2012

Eu não sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia. Se eu compro balas, chicletes, devoro todos em minutos, compulsivamente. Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo. Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade. A felicidade guardada na bolsa ou na vida. Ele está me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele. Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele. Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote. Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade. Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo. É cansativo ser eu com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso. Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Passe desta para uma melhor, porque eu sou um lixo. Eu lembro daquele conto da Clarice em que a garotinha ruiva guardava os contos para ler depois, porque queria prolongar o mistério da felicidade. Pois eu quero mais é botar fogo em todos os contos de felicidade que a vida escreve para mim, porque por alguma razão maluca a felicidade me escraviza, me paralisa, me faz ficar triste. Eu olho para você e tenho tanta, mas tanta alegria em saber que você existe, que sinto ódio. Ódio de eu não mais esperar por você. O sentido da minha vida era encontrar você. O motivo para eu seguir adiante nos corredores escuros e bater em portas obscuras, era a sua busca. Eu sinto falta de olhar triste para o espelho e me sentir metade. Agora que eu tenho você, nem perco mais meu tempo olhando para o espelho, porque só tenho olhos para você. Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim. Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota. O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa. Você me fez sentir um mundo limpo, verdadeiro e eterno. E esse mundo é tão novo pra mim, que eu te odeio. Que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem. E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas. Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa. Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar. Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe, seu marido me come, seu namorado me come, o mundo quer me comer enquanto você borda seu laço cor-de-rosa. Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças. Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco. Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garotas vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia. Agora eu estou aqui, de quatro, de lingua no chão, te odiando muito, virando a cara, socando você, cuspindo em você, te tratando mal, tudo isso porque não sei lidar com o mundo girando na minha barriga, a tontura do amor, o enjôo do vício em você, a dor do músculo quando me separo. Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.

Tati Bernardi

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